Muitas vezes na vida, somos brindados por grupos de convívio que nos permitem uma acolhida e uma interação por interesses comuns. Seja a escola, com nossos amigos de brincadeiras, seja um simples grupo para se esbaldar num churrasco em família, um grupo para torcer pelo time que amamos, ou um grupo de estudos na universidade, sempre formamos grupos sociais aos quais nos apegamos, uns mais, outros menos.
Recentemente fiquei sabendo da existência do movimento Slow Food no mundo e melhor, que este movimento foi criado na Itália por Carlo Petrini para promover uma maneira mais saudável de se alimentar inclusive protegendo a sustentabilidade desta cadeia que nos serve os alimentos que necessitamos para ter saúde. Que belo propósito. Mais interessado fiquei ao saber que no Rio de Janeiro, Margarida Nogueira já coordenava um grupo interessado em conviver harmônicamente dentro desta cadeia alimentar. Nunca, em toda minha vida, eu havia me identificado tão rápidamente e apaixonadamente por um movimento como o que me ocorreu com o Slow Food. Vi que ali estão pessoas de bem, com bons princípios, bons valores e que realmente se interessam por uma causa nobre, nosso alimento e como protegê-lo em todos os níveis.
Liguei para Margarida, pois vi em meu trabalho uma identificação imediata com as bases e propostas do movimento Slow. Nada de fast-foods e sim a volta, o resgate do prazer de alimentar-se com parcimoniosa qualidade, com alimentos feitos com os melhores ingredientes e com aquele amor, típico de nossas mães e avós. Um amor umbilical que só alguém muito próximo e que nos quer bem pode compreender e operar favorávelmente. Assim, recebi um convite, de pronto aceito, para ir ao Rio conviver por algumas horas com membros do movimento e poder durante este convívio, passar a eles um pouco do que sei na arte do pão. Disse-me ela para escolher duas receitas e fazer estes pães no nosso encontro.
Escolhi primeiramente o Pão Integral de Linhaça, ou Pão da Salvação, não só pelo que representou para mim, mas principalmente simbólicamente osintetiza ele, a filosofia Slow pois que descansa entre 12 e 24 horas até seu consumo final, ou até mais que isto se incluirmos o tempo para que este pão esfrie adequadamente. Bingo! Fiz o Pão Integral com linhaça dourada e todos, todos mesmo, não poderia ser diferente, gostaram, não só do método como do seu paladar, aroma e inigualável textura. Venho me alimentando deste pão há quase tres anos e minha saúde está muito boa. Brindamos com Prosecco e pão integral!
Outro pão, teria que representar a mesma filosofia Slow. Porquê não o delicioso Stollen de Dresden? Este pão é também um pão filosóficamente muito adequado ao movimento, pois é preferencialmente consumido numa época do ano, apenas, o Natal, muito embora à primeira prova passamos a desejá-lo sempre a qualquer tempo. Suas frutas, cerejas, passas e amêndoas devem marinar em uma mistura de rum e maraschino por vários dias. Seu preparo, segundo as rígidas normas das associações de padeiros de Dresden, deve acontecer em novembro e sua venda ou comercialização é feita no início de dezembro para que na noite de Natal após mais de um mês do início do preparo ele possa ser aquecido, polvilhado com açúcar de confeiteiro e degustado. Um pão delicioso, tão delicioso que mesmo queimando etapas e tendo que prepará-lo no nosso encontro, fugindo das normas do movimento, pois apenas com o intuito de poder passar o modo de fazer deste pão, tive que preparar a massa e assá-la em menos de duas horas, mesmo assim esta verdadeira iguaria ficou um mel.
Estarei, a convite da mesma Margarida e deste grupo maravilhoso, responsável nos próximos dias da implantação do Convivium do movimento Slow em Petrópolis com o aval e assessoria técnica tanto da Margarida quanto de Ricardo Tammela, que foi quem me chamou para estar na FMP-FASE em Petrópolis implantando o primeiro curso de Panificação Artesanal. E quando estamos em grupos onde há gente comprometida com nobres ideais as coisas fluem muito bem. O Convivium Petrópolis vai operar exatamente dentro dos portões da FASE que irá saber, com ajuda de seu corpo técnico, docente, discentes e colaboradores como eu irradiar cultura, princípios e a boa convivência homem-alimento que tanto devemos buscar.
Orgulho-me de ter podido ontem passar ao movimento voluntáriamente um pouco do que sei. E sei que novas idéias, novos encontros, novas aspirações ocorrerão dentro e fora do movimento, SEMPRE para o bem!
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